CAELUM ET AQUA
Será que o céu pode arriar,
Será que o céu pode arriar,
Cair sobre nossos cabelos e dar um cheiro?
Eu diria que um dia ele pode até não descer,
Porque, hoje, desce.
Amanhã, descerá também.
Todo dia o danado do céu vem,
Cai todinho para se esfregar no chão.
Só não desce o avião, que não sabe caminhar.
Se um peixe sai da água, ele pensa em se afogar.
Se uma água sai dos peixes, tem vontade de secar.
Ah, eu vi gotas se atirarem do último andar
De uma massa celeste,
Grande que só a peste.
Talvez ela quisesse andar,
Talvez quisesse apenas se casar
Com um outro rapaz –
Aquele que beber mais.
Acredito que todo pingo bebe, sem fleuma,
O corpo da mulher que, suado e ardente,
Nela se banha,
Feito quem descansa na rede
O pobre calcanhar,
Que, incapaz de andar, decidiu resfolegar.
O sonho de toda água benévola, que vive embebida por natureza,
É mergulhar no soalho que ganhou seu coração.
Seja inverno, seja verão,
O desejo é sempre um só.
Tal como conselho de vó,
Geralmente seguido à risca.
E, se você passar da lista,
Vai saber de cor
O caminho a se seguir, a pista,
Que te priva de bizu ou dó.
Apesar de tanta sabedoria,
Nenhuma água entenderia onde deve desaguar.
Poderia até viver de tentar.
Mais uma boba estaria sendo.
Toda se remoendo,
Sem sair do lugar.
Juro que ela também não sabe se João é Conde,
Ou sequer onde e com quem deve morar.
Pouco importaria o tamanho do lar,
Mas uma coisa ela exigiria:
Uma sede, um véu e um altar.
Tarcísio Feliciano [28/05/2014]