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terça-feira, 29 de julho de 2014

FOME DA SOBRA DE TEMPO

Fome da sobra de tempo
 
Tarde paralisada.
Inicia-se agora,
Com toda demora que o mundo tem para dar.
Trabalhada na ociosidade.
Amarraram o tempo de verdade.
Começando com um terço dos relógios.

DURANTE UM PICOSSEGUNDO, OS PENSAMENTOS DE ALFREDO FELICIANO VIRARAM UM SOM ALTO E BASTANTE CLARO:

"O meu corpo está doendo.
O meu braço esquerdo está doendo.
Minha mão está doendo.
A ponta do meu dedo está doendo.
É o ócio.
Eu juro.

É irreversível e não tem água que cure.
O meu dedo está queimando.
Esse mês não passará nunca!
Eu sou o culpado.
Eu sou culpado porque sou compatível com a fúria."
 
Terminaram de abocanhar o segundo,
Tendo se passado o ‘mili’ de um.
Interessante, esse mundo, vulnerável que só.
Impera o silêncio; os fótons caminham para longe.
Começou pelo findável e viu o fim mais doloroso na eternidade.
Comece. Note o oceano, emaranhado, que te cerca e que te afoga em vida.
Temos vivido sempre no meio e desejando o início de tudo... e o fim, claro.
Tínhamos atribuído àquele que manda brasa, o querubim, o final.
Atribuindo também, da mesma forma, o início ao barbudo onipotente.
Apenas posso chamar de tolo o tal bóson.
Cercando o início, a metade e o fim,
Certeiro é o ócio, que engole o tempo sem meio.
 
Terminei descobrindo que o tempo não me desfaz.
Tampouco importaria se o ‘tic’ fosse ‘cit’.
Trovejou e bradou a demora, em meu ouvido mais sensível.
Impertinentemente, as ondas se esbarram de forma vagarosa.
Infelicidade minha.
Ingênuo eu sou, se acredito em ilusões.
Certamente, o ócio se aproveitou de um semelhante.
Cabe a mim provar o meu sabor agridoce.
Cunegundes está em apuros.
Tarde demais, Pangloss.
Tua inocência demasiada não tinha fome, mas tinha um corpo para se devorar.
Ter dó?
A mente vazia é um caos na lama.
Ao homem não coletivo resta a necessidade de gritar, mas sem muito alarde.
À senhora que come: eu agradeço pela delonga.
Calma, ainda baterá.
Claro que não precisa de mais gritaria, já não ouço.
Cessou. (...c...)
 
 
O ócio tem tempo de sobra porque se alimenta de todo o tempo que resta.

Tarcísio Feliciano

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